Existem mais coisas entre o céu e a Terra do que sonha a nossa vã filosofia. Logo, vamos agarrá-la e pertubá-la para que (nos) acorde.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Reinventando a Estação Afonso Pena


Com alguma licença poética (?), Senhor Ancelmo Gois, vou utilizar-estilizar um bordão teu : vai parecer piegas, e é. Recentemente utilizei o metrô para deslocar-me pela Maravilhosa. A estação mais próxima onde embarquei chama-se Afonso Pena, lá na Praça Castilho França, onde ainda moram os mesmos meninos, ladrilhos quebrados, cachorros de rua. Minhas dicotômicas lembranças.

Imagens desse espaço urbano passam pelos meus olhos cansado(s). Quando cursava meu "primeiro" ano de vestibular, eis que me surge Lilian (as aspas servem-me para meu revel argumento ou subterfúgio de que o antigo terceirão mormente objetivava não mais do que passar de ano). Tão longe de ser meu primeiro amor, mas de uma intensidade única e incorrespondível(?). Platônico. Não mais do que platônico. Pelo menos, o melhor de todos. Não seria caso ela não tivesse me dito que o namorado dela morava em Botafogo. Ai! (Não há ambiguidade se você leitor analisar essa minha tragédia).

Eu acompanhava Lilian que morava nas adjacências da Praça Sáenz Peña indo à estação Afonso Pena de onde pegávamos o metrô. Pueril ou esperançoso, morador orgulhoso do Grajaú , a acompanhava até a sua casa. Deleitava-me com os lábios dela que de lance tocavam-me a bochecha como uma forma gentil de dizer "obrigado por me acompanhar". Como eu gostava de ser vassalo. Um amor profundo, carinhoso. Ela sabia, mesmo que eu não tivesse a coragem de dizer :
Eu te amo.

Era algo que eu recomendo a todos, algo bom, a minha eudamonia. Era sobretudo cândido. Embora ela tivesse outro, gostava de saber que me controlava. Alimentando as falsas esperanças do degas. Bastavam-me as frivolidades que se sucediam na companhia dela. Sentar na carteira ao lado dela, vê-la anotando os rabiscos de giz da lousa. Indo comigo à Estação Afonso Pena. Comigo dentro da estação e do vagão. Passos que eu pedia durar a infinidade. Infinidade que consumia meu coração e que de tão consumido, em um último momento de contemplação, me deixa-se pleno senti-la. Senti-la em mim e eu nela. Um ser só.
E o infinito não seria nada perto de nós.

Mas ela foi embora.
Deixando-me uma mariola de presente que comprara com um dos meninos da Estação Afonso Pena. Não pude levá-la até a sua casa. Deixei-a no metrô, sem nunca dizer o que, em celulose virtual, escrevi aqui . A porta do vagão se fechou. Ela lá dentro e eu na plataforma da Estação. Nunca me foi tão oportuna a expressão
Tão perto; mas, ao mesmo tempo, tão longe
.

Nada era nada então.
Todo o infinito era diminuto.
Eu, inclusive.
Ela, exclusive.
Vestibular, nada.
Nada,
nada.
Minha
vida
nadando
a
esmo.

Deriva.

Hoje, homem resoluto (?), vou ao metrô, o nosso caminho (meu calvário), para resgatar uma lembrança (t)oxímara e dar uns trocados à minha esperança que indigente mora na mesma plataforma da Estação Afonso Pena, minha assombração. Na última vez ela me perguntou : Será que ela chega no próximo trem? Esse pedaço amputado de mim continuou lá - e continua - esperando que o próximo trem a carregue de volta.
Lá de forma tão dantesca, sabedoria ou medo, abandono todas as outras irmãs-esperanças que porventura possam abrasar-me o coração.
Ah! se eu não fosse tão poeta.

Estação Afonso Pena, vou ai para lembrar-me da perda,
para livrar-me,
para reviver tudo,
para
não
sentir
mais
nada
.

"Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?"

Luis de Camões




... a mariola, ainda guardo

domingo, 11 de abril de 2010

(a)fronese





Eu deveria me apresentar durante este lance. Como nas cartas antigas, e como nos sisudos discursos
dos catedráticos (algumas logorréias deveras eunucas de uma reles malta pseudo-intelectual cujo vão locupletamento desenvolvia-se na assapiensia de seus interlocutores). Vamos ser práticos, não? Sempre existe um link.





Recomendo, em alguns instantes lexicais, o uso do dicionário.

Vamos ao assunto, VAMOS SER PRAGMÁTICOS! (leitor, internauta, esse grito não foi para você, foi para mim. Vez em quando, rodeio e rodeio com as palavras... já estou fazendo isso de novo). Você, eu acho, deve estar se questionando o que é Phronesis (tupiniquinizado fronese ou frónesis).
Aristóteles, em Ética a Nicômaco, de forma resumida, descreve que a fronese é a sabedoria prática. Um apetrecho para se atingir a eudamonia (uma "felicidade" atrelada à busca pela iluminação humana).
Mas eu não teria essa desventura de acordar cedo cedo, manhã de domingo, para criar um blog com a finalidade de somente expor um significado, que bem pode ser encontrado em diversas outras fontes. Este meu blog afronese serve para que, na poesia de cada dia, a sabedoria e a filosofia criem um valor fronético capaz de questionar o valor do automatismo de nosso mundo, dos imperativos sociais, convenções e normas (que caminham sentido oposto à eudamonia). Meu objetivo é reinventar um significado próprio a um significante (ou você, meu caro leitor, acha que o "a" de http://afronese.blogspot.com/é somente um artigo?).

Meio paradoxal, não? Criar uma sabedoria prática como subterfúgio da contumaz e normativa sabedoria nada prática.